sábado, 3 de fevereiro de 2018

Tal como Atenas na Liga de Delos, a UE castiga quem sai

(Originalmente publicado no "Jacaré parado vira mala" no dia 3 de Fevereiro de 2018)

Como Tasso ou Naxos na Grécia Antiga, o Reino Unido deve ser punido pelo Brexit
por Peter Jones

Nota prévia: sou leitor assíduo da revista “The Spectator”, uma publicação inglesa de grande qualidade e fundada em 1828. A revista tem uma visão tendencialmente liberal-conservadora, é aberta ao diálogo, e versa principalmente sobre política, arte, cultura, filosofia e actualidade. Uma das colunas que leio sempre é “Ancient and Modern”, do classicista Peter Jones, e na edição de dia 9 de Dezembro saiu o seguinte texto que traduzo livremente para Português.

Naxos, ilha de Naxos, Grécia

Like Thasos or Naxos in ancient Greece, Brexit Britain must be punished

A União Europeia não quer que o Reino Unido saia e irá fazer tudo para o impedir. Cada dia que passa, fica mais claro que os Brexiteers não poderão mais esperar um acordo de saída benéfico ou até remotamente satisfatório.

Tal como a UE, os Atenienses sabiam como tratar os “desistentes”. Depois de expulsar os poderosos Persas em 479 a.C., os Atenienses propuseram a todas as cidades-estado gregas que se unissem para impedir que os Persas voltassem novamente. O meio de o conseguir seria uma força naval pan-Helénica que patrulhasse o Mar Egeu constantemente. Essa força seria liderada por Atenas, pois esta era a principal potência marítima da Grécia Antiga.

Para que tal acontecesse, foi acordado que as cidades-estado contribuíssem anualmente com uma soma de dinheiro ou com navios e Atenas ficava incumbida da tarefa de construir uma armada que garantisse a segurança dos gregos na região. O historiador contemporâneo Tucídides relatou que o primeiro membro da Liga a revoltar-se foi a ilha de Naxos, cerca de 468 a.C.. Não quis ou não pôde arranjar o dinheiro ou os barcos requeridos, mas “os Atenienses insistiram que as obrigações tinham de ser estritamente cumpridas”.

Uma vez que muitas das cidades-estado preferiam dar dinheiro em vez de serviço militar na forma de homens e navios,  Atenas pôde alargar a sua própria frota e assim intimidar quem quer que se revoltasse. Naxos foi atacada e forçada a reentrar na Liga. Em 365 a.C. o mesmo destino esperava a ilha de Tasso: as suas muralhas defensivas foram destruídas, a sua marinha rendeu-se, uma indemnização foi imposta e perderam o controlo sobre as suas minas de ouro.

A análise de Tucídides sobre a situação é que, os estados em posição de poder, usam-no em qualquer situação por três razões — status, medo e interesse próprio. E isso foi o que conduziu Atenas a agir desta maneira. Até Péricles admitiu que o império era “como uma tirania”.

A União Europeia não é uma tirania, mas a sua motivação é idêntica. Mais, tal como Atenas, a UE tem a vantagem do seu lado. Por esta razão é que recusa negociar tudo o que não esteja nos seus próprios termos. Porque haveria de fazer de outra forma? Tal como os Atenienses, a UE tem o dever de proteger os seus próprios interesses. Não tem nada que proteger os nossos.

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