A dificuldade de muitas das nossas decisões não está em optar entre o bem e o mal, mas entre o ideal e o pragmático, o sentimento e a razão, a convicção e a responsabilidade. Este dilema ético acompanha qualquer pessoa nas suas escolhas ao longo da vida. Como deve ser a minha conduta? A minha ética é a da convicção ou a da responsabilidade? Umas vezes uma, outras vezes outra? Tentar arranjar um equilíbrio entre ambas, tal como sugere Max Weber, não será contaminar a pureza da ética da convicção e torná-la sempre, inevitavelmente, numa ética da responsabilidade?
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Lembro que José Sócrates, na práctica do auto-elogio em que recorre, disse que decidira que o Tratado de Lisboa não iria a referendo em Portugal por uma questão de ética da responsabilidade. Ou seja, para quem crê no valor da democracia ou no valor de honrar a palavra dada na campanha eleitoral, o sr engenhoso preferiu iludir esses valores a arriscar-se a ver o seu Tratado chumbado em referendo. Assim, sou pela ética da convicção em tudo, o mais possível, sem qualquer concessão e defendendo só aquilo em que acredito. Considero até um pouco descabido chamar "ética" à segunda hipótese. É por exemplo pela ética da convicção que desprezo qualquer apelo ao voto útil que façam os dois partidos do poder, ou os cinco da assembleia. Se nalgum deles votar, nunca será por esse repelente argumento, mas pelas suas propostas, ideologias (porque ainda as há), e pessoas. Pode-se dizer que, quem concorda mais com um partido numas eleições e vota noutro porque pensa ser mais útil assim, está-se alinhando por uma ética da responsabilidade (nada a fazer, a designação do Weber é mesmo esta...).
Defender a ética da convicção é proteger a pureza da verdade a todo o custo, numa atitude próxima do irrepreensível. O protagonista deste filme podia ter-se casado com a mulher que amava, ter-se livrado do fidagal inimigo, e ter-se tornado no seguinte Rei de Jerusalém, mantendo uma amigável paz com Saladino, e tudo isto se tivesse dito um simples "sim" ao seu rei. Mas preferiu dizer "não", apenas porque não concordou com o método traiçoeiro de afastar o seu pior inimigo para resolver todos os seus problemas e os do reino. É por isso que considero Balian um dos mais virtuosos heróis que o cinema produziu nos últimos tempos. E se alguém pensa que Balian escolheu a solução que lhe dava menos problemas, está redondamente enganado. Desde quando é que agir conforme a consciência é o caminho mais fácil?
2 comentários:
para que saibas há quem leia estes teus textos gigantes e chegue ao final a pensar: "muito bom mesmo... muito bom... sim Sr." ACC
Eheheh obrigado grande ACC! Este texto também é para ti. Apesar de, como sabes, muitas vezes não concordar com o que defendes, acho que tu és um dos poucos ilustres exemplos de pessoas que ainda alinha pela ética da convicção. E isso é de valor! Um abraço
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