segunda-feira, 21 de março de 2011

flexibilidade moral é terreno fértil para os sofistas


Há uns tempos falava-se das bondades da "flexisegurança", da necessidade de flexibilizar a contratação e o despedimento, da flexibilização do trabalho e dos horários. São temas que hão-de voltar mais cedo que tarde. Mas hoje trago à Conspiração uma flexibilidade realmente perigosa: a flexibilidade moral. De facto, há trabalhos onde se pede ao contratado uma grande flexibilidade moral para defender valores que não são os seus e vestir uma camisola que não é a sua. Às vezes, até se defendem os valores que não são de ninguém. Há casos reais e diferentes tipos de escravatura no século XXI. Mas a mais perigosa de todas é a escravidão da consciência.

O que torna a consultoria em comunicação um trabalho eticamente difícil é que o compromisso que temos para com a verdade passa para segundo plano. Nesta área da comunicação política e empresarial, muito raramente se tem em conta a verdade entre os objectivos propostos e que quando cumpridos valem como "sucesso". A reputação de uma marca constrói-se num horizonte de longo prazo, mas em Portugal ainda não se pode dizer que haja essa sensibilidade nas empresas, nem na política, e muito menos em tempos de crise. Só conta o aparecer no jornal amanhã, os fãs que se tem no facebook, os seguidores que se tem no twitter. Tudo efémero e pouco relevante se sem estratégia. O sucesso de curto prazo anda a maior parte das vezes desligado da verdade, e pelo crivo do tempo são filtradas quase todas as mentiras, cortinas de fumo, omissões e enganos. Mas, ainda assim, as nossas empresas vivem obcecadas com os números de hoje, com os ROI de amanhã de manhãzinha, com o impacto imediato.

Trago por isso à mesa da Conspiração o Thank you for smoking, que é um filme sobre o lado lunar dos lobbies. Este filme ilustra muito bem como a verdade é constantemente atacada pelo relativismo nestes meios, tornada maleável, e flexibilizada para vender.



Será acertado dizer que falta visão e paciência às nossas empresas, que falta coragem e ousadia aos nossos políticos, que falta activismo na nossa sociedade civil. Mas acima de tudo, o que falta é mais verdade nas nossas vidas. A comunicação não devia ser inimiga da verdade, antes devia ser sua aliada e seu veículo. Mas é preciso ter atenção, porque talvez nunca tenha havido tantos sofistas profissionais como há hoje.


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