sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Presidenciais: as sondagens, os candidatos e o sistema


Último dia de campanha eleitoral. As últimas sondagens dão Cavaco Silva a ganhar à primeira volta, com 54 a 64% dos votos. Mas mais para os 54 que para os 64. Manuel Alegre tem entre 15 e 25% das intenções de voto. Fernando Nobre, entre 9 e 13%. Francisco Lopes teria 3 a 8% dos votos. Defensor Moura, 1 a 2,6%. José Manuel Coelho, de 0,9 a 2,7%.

Estas sondagens que misturo (Marktest, Intercampus, Eurosondagem, CESOP/Católica, e Aximage) apresentam, como vemos, números mínimos e máximos muito distantes entre si (de 10%, no caso dos dois primeiros candidatos). O semanário Sol resolveu esta questão fazendo uma média das sondagens, e que põe na capa do jornal de hoje.


Duas coisas óbvias, para arrumar este assunto das sondagens: alguma estará mais acertada que as outras, mas ainda não sabemos qual. E o truque do Sol, já denunciado no blog Margens de Erro (onde encontramos todas as sondagens comentadas), também não merece muita credibilidade, pois faz uma média de amostras desiguais, recolhidas em datas diferentes, e de formas distintas. Tal como é fácil ouvir a qualquer político dizer, estas sondagens valem o que valem. E a "sondagem" do Sol não vale o que valem as outras.

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Vamos aos candidatos. O que é vitória e o que é derrota para cada um:

Cavaco Silva - Ganhar é sempre uma vitória. Mas Cavaco precisa de superar os votos que teve em 2006. Resultados abaixo dos 55% terão sabor amargo, e ser forçado a uma segunda volta é humilhação.

Manuel Alegre - Vitória para Alegre será, pelo menos, forçar Cavaco a uma segunda volta. Aí, tudo pode acontecer, pois muita abstenção se irá manifestar - tanto à esquerda como à direita. Derrota, para este candidato apoiado pelo PS e BE, será ter menos que o milhão de votos que teve em 2006 como independente.

Fernando Nobre - Chegar ao 2º lugar e ter o milhão de votos que Alegre teve em 2006 é muito difícil, mas ficar com o 3º lugar já é vitória. Derrota será ficar atrás do candidato comunista Francisco Lopes.

Francisco Lopes - Uma boa vitória é ficar em 3º lugar, ou ter mais de 8% dos votos. Mas a sua candidatura, pela mobilização e pelo tempo de antena que teve, falando para a base de apoio comunista, já cumpriu com o seu objectivo, independentemente do resultado.

Defensor Moura - Ajudar Manuel Alegre era a sua missão partidária, relançar a sua candidatura à Câmara Municipal de Viana do Castelo era a sua missão pessoal. Introduziu a campanha negra na corrida, com o caso BPN contra Cavaco. O caso BPN fez muito ruído, mas duvido que vá produzir resultados práticos na votação. Mas não há dúvida que afecta a imagem e reputação de Cavaco Silva, principalmente do ponto de vista histórico. A partir daqui, não haverá biografia política de Cavaco que não vá referir a nebulosa feita à volta do BPN. Mesmo que fique em 6º lugar, Defensor Moura já conseguiu os seus objectivos.

José Manuel Coelho - Já ganhou, a vários os níveis. Só o facto de ter reunido as assinaturas suficientes para ser candidato, é uma grande vitória. Mas deixo esta análise para o próximo post. É um assunto que tem pano para mangas.

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Sou católico, um monárquico diferente do monarquismo mainstream, e nas últimas eleições apelei ao voto nulo. No entanto, como católico em primeiro lugar, tinha alguma expectativa de que Cavaco fosse coerente com os seus valores e convicções. Foi pelos valores e convicções de Cavaco que os eleitores votaram nele em 2006. Votaram também nele pela sua condição de economista e perito em contas públicas. Cavaco defraudou expectativas no campo dos valores, e pouco se fez valer da sua visão de economista.

A culpa é de Cavaco? É de quem o elegeu? Sim, e também. Mas o que permite tudo isto é o sistema eleitoral que temos. É um sistema em que o Presidente da República é eleito por cinco anos e se pode recandidatar para um outro mandato de mais cinco anos. Isto implica que, para quem quer ficar 10 anos em Belém, o primeiro mandato é exercido com a reeleição sempre em vista. A reeleição torna-se a máxima prioridade na acção política de qualquer Presidente no seu primeiro mandato.

Os últimos Presidentes da República que tivemos sacrificaram tudo à prioridade da reeleição. Tudo. Desde a sua forma natural de agir, às suas convicções e, até, ao superior interesse nacional. Tudo em segundo e terceiro plano. E revelaram só no segundo mandato qual a sua verdadeira forma de agir, as suas convicções, e a sua visão do que é o superior interesse nacional. Por estas razões se diz que houve dois Presidentes Eanes, dois Soares e dois Sampaios. Soares e Sampaio foram especialmente ausentes nos respectivos primeiros mandatos, para não comprometerem os segundos mandatos, onde foram fortemente interventivos. Sampaio inclusivamente se deu ao luxo de dissolver a Assembleia da República sem sequer se dignar a dar uma qualquer explicação.

Temos, portanto, um sistema que potencia os vícios do Presidente da República no exercício do seu primeiro mandato presidencial. Para combater esta bipolaridade política que se impõe aos consecutivos Presidentes da República do nosso País, há duas soluções: a primeira, naturalmente, é a monarquia. A segunda possível reforma, e certamente mais exequível de acontecer nos dias de hoje, é impedir que o Presidente da República se possa recandidatar, aumentando a duração do mandato para, por exemplo, 7 ou 8 anos, como compensação e garantia de alguma estabilidade na chefia de Estado. Desta forma, elegeríamos um Presidente da República que iria actuar mais de acordo com os seus valores e convicções, afinal, a razão pela qual foi eleito, de acordo com o superior interesse nacional. O fantasma da reeleição estaria vencido e as prioridades do Presidente voltariam a ser as certas. A política sairia credibilizada. As pessoas podiam contar mais com aqueles que escolheram.

Cavaco Silva será um Presidente diferente no segundo mandato, tal como Soares e Sampaio, ou até Eanes. Vai ser mais interventivo, sem dúvida, e com um exercício mais católico, espera-se. Mas eu não quero que ele ganhe à primeira volta. Não, isso seria demasiado fácil. Cavaco tem de suar, tem de ser forçado a uma segunda volta para nos dirigir palavras mais humildes. Precisa de pedir desculpas aos católicos que o elegeram pelas leis aberrantes que promulgou. E precisa de prometer que tudo isso não se vai repetir no segundo mandato. Aí, e só aí, até eu votarei nele.

Mas, pelos vistos, a segunda volta é apenas uma miragem. Cavaco deve ganhar à primeira volta, como diz até a sua pior sondagem.

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