domingo, 17 de março de 2024

Carta aos líderes do PSD, CDS e PPM e aos Deputados eleitos da AD



Lisboa, dia 17 de Março de 2024

Exmos. Senhores Líderes do PSD, do CDS e do PPM,

Exmos. Senhores Deputados Eleitos da AD,

 

Desde a noite das últimas eleições que oiço com perplexidade alguns dirigentes e ilustres dos vossos partidos a sugerir a necessidade de se negociar com o Chega uma solução de Governo.

 

Estará na altura da AD pensar de outra maneira? Será tempo de desfazer determinada cerca sanitária? Terá a força de um milhão transformado propostas infames e irreconciliáveis em ideias aceitáveis?

 

Não faz sentido colocar qualquer destas perguntas àqueles que foram eleitos em condições muito bem definidas pelos próprios. A única via digna é honrarem a palavra dada, este compromisso que assumiram diante dos eleitores, até ao fim do vosso mandato.

 

Eu votei na AD nessa condição. Nasci em 1986, sou casado e tenho três filhos. Vivo em Portugal e já vivi fora. Prezo muito a liberdade e a democracia que temos, princípios que gostaria de ver cada vez mais consolidados no nosso país. O PSD, o CDS e o PPM terão de estar à altura da sua História e mostrar ser melhores que o PS e que o Chega:

- melhores que o PS, não pactuando com partidos que ameaçam a democracia e as nossas liberdades — a democratização do erro não deve ser um argumento, como querem aqueles que dizem que, com o derrube do “muro” por António Costa, passou a valer tudo;

- melhores que o Chega, defendendo os vossos princípios e honrando a palavra dada —menções a Maquiavel, a Churchill e a Kissinger não devem significar que os meios justificam os fins, como pretendem aqueles que invocam o seu “realismo”.

 

Falemos então de realismo, pois é de elementar realismo reconhecermos que seria de um imperdoável oportunismo tentar mudar as regras a meio do jogo. Para convocar novas condições, só provocando novas eleições. Se é urgente ultrapassar o bloqueio, então encurte-se o mandato. Umas novas condições talvez possam desbloquear a situação, embora provavelmente já sem o meu voto. Mas quebrar compromissos, nunca! Essa hipótese seria mais uma machadada, quem sabe se fatal, desferida na reputação dos partidos da AD. Honrar a palavra não é uma opção, mas o vosso primeiro dever.

 

O que espero da AD é um governo novo, que olhe com frescura para a política, com ânimo construtivo para os problemas, com esperança para o país. Espero da AD que continue o caminho que encetou na campanha eleitoral, aberto à sociedade civil e indo buscar bom conselho a quem tem a experiência de governos anteriores. Com uma boa equipa no Governo, que proponha verdadeiras respostas para os problemas comuns que enfrentamos, irão prosseguir o caminho de reconciliação com os eleitores e alargar o vosso apoio.

 

Se souberem inspirar o país e devolver a esperança nos valores que nos unem, se encontrarem um governo que saiba mostrar todo o seu potencial de competência, mesmo que bloqueados pela oposição, a AD irá ser premiada nas próximas eleições. Foi isso que aconteceu entre 1985 e 87 e essa é a nossa esperança em 2024. Cumprir o que prometemos é o moralmente certo a fazer, sendo também neste caso o que estrategicamente faz sentido.

 

Confiando que sentem o apelo de quem vos confiou pelo voto um claro mandato, envio os melhores cumprimentos,

 

António Vieira da Cruz

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