quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

leituras de Abril, 2019

(originalmente publicado no Jacaré)





 

Cherry Ingram - The Englishman who saved Japan's blossoms, por Naoko Abe (380 páginas, Penguin Random House, Londres, 2019). Belíssimamente investigada e escrita pela jornalista Naoko Abe, a história de Collingwood "Cherry" Ingram é rica e interessante. Os 100 anos que Cherry Ingram (1880-1981) viveu são uma lição de perseverança, de desafio às probabilidades, de amor pelo conhecimento, pela diversidade e pela defesa daquilo que está certo. Através da vida deste ornitólogo, militar e coleccionador de cerejeiras, podemos acompanhar a evolução política, diplomática e estética de dois países: a sua Inglaterra natal e o seu fascinante Japão. Enquanto o Japão se preparava para a guerra, só uma variedade de cerejeira devia ser plantada: aquela que, segundo os governantes da época, melhor inspirava os kamikaze - pela beleza com que as suas flores caiem - a morrerem pelo imperador e pela pátria. Contra o empobrecimento cultural e desafiando o uniformismo estético imposto, Ingram trouxe várias espécies proibidas para Inglaterra, salvando-as da sua extinção e plantando-as no seu jardim. Finda a guerra, a partir de lá voltaram as cerejeiras exiladas para o Japão.

Os Comandos em África, por John P. Cann (165 páginas, Tribuna da História, Cascais, 2019). O autor é capitão de mar e guerra aposentado da Marinha dos EUA e, ao estar destacado em Oeiras na NATO, começou a estudar com maior detalhe as guerras de defesa de Portugal em África, sendo uma autoridade no assunto e com vasta obra publicada. Entre os bravos Comandos Portugueses contam-se alguns dos nossos maiores heróis, tão injustamente esquecidos por conveniência política. Os Comandos representavam pouco mais de 1% das nossas Forças Armadas em África, no entanto às unidades de Comandos se devem a maior eliminação de combatentes inimigos e apreensão de armas dos mesmos. Como diz Cann, "o exigente treino dos Comandos e a sua capacidade de adaptação ao teatro africano de operações, fizeram deles a força mais eficiente do Exército Português em África". Este livro mostra o contexto dos 13 anos de guerra (1961-74), contando em detalhe algumas operações passadas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Com a colaboração da Associação de Comandos e da Comissão Portuguesa de História Militar, trata-se de um testemunho que não deixa esquecer estes heróis que merecem a nossa maior admiração e reconhecimento.

Revolução! - Das Internacionais às ditaduras militares: Portugal e Espanha (1864-1926), por José Luís Andrade (705 páginas, Casa das Letras, 2019). O autor, que tenho o gosto de conhecer, é um dos maiores especialistas da Guerra Civil de Espanha e dos tempos que lhe antecederam. Este livro investiga a fundo os acontecimentos e caldo político-cultural em Portugal e Espanha no período 1864-1926, acompanhando influências, contrastes, e desvelando-nos anos pouco estudados mas cruciais para entendermos o nosso século XX. Prometo voltar a este assunto quando a minha leitura estiver mais avançada.

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