quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

a autoridade como serviço

(originalmente publicado no Jacaré)


Foi recentemente lançado, logo após a morte do autor, o livro “As ideias políticas e sociais de Jesus Cristo" por Diogo Freitas do Amaral (1941-2019). O percurso do fundador do CDS é sobejamente conhecido e dispensa apresentações. Neste pequeno livro que não chega à centena de páginas, vamos às palavras de Jesus Cristo que inspiram a Doutrina Social da Igreja que Freitas do Amaral explica e promove. As ideias políticas e sociais de Jesus Cristo, presentes em várias passagens e de forma mais óbvia no Sermão da Montanha, são-nos pedagogicamente transmitidas no contexto histórico e económico da época. Para tal, Freitas do Amaral usa o seu poder de síntese e socorre-se de bons mapas.


Destaco a seguinte passagem:
Na verdade, o Estado - isto é, o poder político com os seus direitos e aparelhos de autoridade - não existe para si próprio ou para agradar aos que o governam (reis, presidentes, ministros), mas sim para se ocupar do bem comum, daquilo que é o bem de todos, dos interesses gerais da colectividade. Os poderes de autoridade são apenas um meio para alcançar um fim; o bem comum é que é o fim a atingir. A autoridade, como meio, é um serviço prestado aos outros. (pág.37)


Fica por explorar a amplitude de acção e interpretações que a Doutrina Social da Igreja permite, por exemplo, quanto à dimensão do Estado. As balizas parecem claras: por um lado, dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, sendo que Jesus deixa claro que o seu reino não é deste mundo; por outro, Jesus Cristo deixou-nos algumas ideias políticas e sociais para este mundo. Sabendo isto, o político cristão (como outros cristãos de outras profissões) deverá conduzir a sua vida com os preceitos da religião que professa. Persiste, porém, a dúvida sobre o ponto certo em que o bem comum deverá ser perseguido: se sobretudo por um Estado que cobra os impostos e os redistribui; ou se sobretudo pelas pessoas que livre e voluntariamente se organizam na sociedade civil. Nesse sentido, é-nos útil o princípio orientador da subsidiariedade que, no entanto, não exclui a subjectividade das análises e o debate entre matizes diversos do plano de acção política.

A definição do bem comum depende, portanto, de várias condicionantes, das circunstâncias e de subjectividades. A Doutrina Social da Igreja dá-nos várias orientações acerca do que poderá ser o bem comum, mas não existe uma fórmula final que o determine de forma concreta e universal. Não dando essa resposta definitiva, este livro dá instrumentos para melhor nos podermos aproximar do bem comum em cada circunstância. Com ideias bem organizadas, clareza de bom comunicador e capacidade de síntese sem perder a profundidade pedagógica, este é um livro de leitura fundamental, para se ter em casa.

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