domingo, 21 de janeiro de 2018

A semana que passou - uma mão cheia de coisas

(Originalmente publicado no "Jacaré parado vira mala" no dia 2 de Outubro de 2017)

A mão cheia compõe-se da palma mais os cinco dedos com que tamborilo neste teclado. E com eles se conta numa penada a semana que passou:

Mindinho: o caso do roubo do paiol de Tancos
Continua o caso do roubo de armas de Tancos sem desenvolvimentos nem solução, e apenas se discute se há relatório ou ainda não. Como assim? Dizia o famoso poeta e gastrónomo Chinês Su Shi 苏轼 (1037-1101) que "As famílias, quando uma criança nasce, querem que ela seja inteligente. Eu, que pela inteligência me tenho prejudicado a vida toda, apenas espero que a criança seja ignorante e estúpida. Assim, terá uma vida tranquila e será um Ministro com gabinete." Não é preciso dizer mais nada.

Anelar: a malograda tentativa de referendo na Catalunha
Há muitos ângulos por onde abordar a questão. Barcelona e Madrid, ambos, estão cheios de razão e da falta dela. Não me interessa entrar por aí. Mas qual deve ser a posição de Portugal neste caso? Portugal habita a mesma península que os intervenientes. Deve o Governo abster-se de qualquer palavra ou apoio a que lado for, mantendo prudente imparcialidade e esperando atento pelo desenlace da situação. Ganhe este braço-de-ferro quem ganhar, e perca quem perder, no fim de contas temos de voltar ao business as usual com ambos os lados.

Este seria o mapa das eventuais independências dos vários povos da Europa. De registar que, por ser um Estado-Nação em que Estado e Nação coincidem exactamente no mesmo território, Portugal é dos poucos países que ficaria intacto.

Do meio: eleições autárquicas em Portugal
Ultrapassando a tristeza de ver os socialistas a ganharem mais de metade das câmaras do meu país, vejo a equívoca estratégia eleitoral do PSD ser punida com o voto noutras forças políticas. Tal circunstância terá provavelmente como consequência o fim do ciclo da liderança de Pedro Passos Coelho no PSD. Passos Coelho não foi brilhante no Governo nem na oposição, mas a ele estou eternamente grato por ter derrotado José Sócrates em 2011. Mais uns anos de Sócrates, e não sei o que restaria de Portugal para os meus filhos. Venha Rui Rio.

Indicador: a morte de Hugh Hefner
Morreu o fundador da revista Playboy. Antes de ser o caquético baboso que víamos a rodear-se das mais jovens practicantes da dita mais velha profissão do mundo, este homem não era um tonto qualquer. Muito hábil como publicista e empresário, Hugh Hefner compreendeu as circunstâncias dos anos 60 na América e contribuiu de forma decisiva para a revolução sexual. Desta caixa de Pandora saíram vários monstros, das feministas queimadoras de soutiens ao lobby gay, dos ideólogos de género aos partidários da legalização do aborto, dos pró-barrigas-de-aluguer aos pornógrafos, dos pedófilos aos polígamos, aos zoófilos e a inúmeras outras perversões que a tal revolução sexual nos obriga gradualmente a tolerar em nome da liberdade. Se as feministas mais radicais consideram a mulher um deus capaz de decidir sobre a vida e a morte de outros seres humanos (como no aborto), Hugh Hefner tratava a mulher como um simples objecto cuja utilidade era satisfazer todos os desejos sexuais do homem. Nisto consiste, para uns e para outros, a liberdade sexual: desafiar abertamente a moral judaico-cristã em crise e substituí-la por uma nova moralidade que se recusa a aceitar a mulher e o homem na sua ordem natural e plena dignidade humana. O recente duelo eleitoral de Hillary Clinton e Donald Trump personificou duas faces desta mesma moeda: a revolução sexual, para a qual Hugh Hefner tanto contribuiu com a sua revista e trabalho, e que tantas famílias destruiu. Hugh Hefner morreu, mas temo que, infelizmente, o seu legado continue a fazer vítimas tanto do lado da procura como da "oferta".

Polegar: uma semana cheia de trabalho
Não é que me queixe, eu faço o que gosto! Mas tendo uma viagem grande pela frente, gostaria de estar mais disponível para a família antes de ir. No entanto, há várias coisas para pôr em ordem antes de fazer as malas e partir. Gostava de esticar o tempo e encurtar o cansaço. Não posso. É nisto que me lembro deste poema de Miguel d'Ors, que me ficou dos bons tempos de quando estudei em Navarra:

Reproche a Miguel d'Ors

Tu corazón navega en la «Kon-Tiki»,
se adentra con Amundsen por las grandes
soledades heladas,
sube al Nanga Parbat con Hermann Buhl, se abre
paso hacia el Amazonas, monta potros,
se hunde en ciénagas verdes con fiebres y mosquitos,
atraviesa desiertos, caza el oso.

Y tú aquí, traidor, en un escalafón y un horario.

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