Amanhã, os Escoceses vão poder decidir sobre a sua independência ou permanência no Reino Unido. Os Ingleses, que tem uma tradição democrática muito mais enraízada do que por exemplo os Espanhóis (não se lhes fale dum referendo semelhante para Catalães ou Bascos), assim o permitiram. Queriam arrumar o assunto e dá-lo
por encerrado para os próximos 300 anos. Mas, ao invés de termos uma campanha
descansada para os unionistas - como Londres erradamente previa no início -, vemos
em vez disso as sondagens disputadas taco a taco.
Bandeira Escocesa com a cruz de Santo André, padroeiro da Escócia |
O que é
que aconteceu de especial para que as intenções de voto fossem afunilando tanto nas últimas semanas? A principal razão é que os independentistas liderados pelo First Minister Escocês Alex Salmond (do Scottish
National Party) fizeram uma excelente campanha, sem espinhas nem erros
comprometedores, apelando ao coração dos Escoceses, ao
destino da sua Nação, ao sentimento identitário e de pertença. Por parte dos unionistas, a campanha tem sido desastrosa: em vez
de apelarem ao coração, apelaram a razões do bolso e da carteira; em vez de se orgulharem do Reino Unido que têm, tentaram induzir medo aos eleitores, enumerando as consequências negativas de a Escócia sair da União. Foi uma campanha atípica, onde os que querem sair fizeram uma campanha
de tom positivo, e os que querem ficar fizeram-na pela negativa.
Os unionistas e os Ingleses que os apoiam começaram a campanha a invocar o suposto
descalabro económico dos Escoceses caso saiam da União. Se escolhessem sair, não poderiam usar a mesma moeda, as pessoas
iriam tirar o seu dinheiro da Escócia, os bancos iriam fechar, a bolsa iria
cair a pique, os negócios iriam acabar e o desemprego iria subir. Depois, como
viram que este discurso não colava,
passaram ao Plano B: prometer mais autonomia aos Escoceses caso aceitassem
ficar, mais serviços sociais,
maior investimento público, melhores condições fiscais. Vendo isto, os independentistas resumiram a campanha
dos unionistas de forma muito sucinta e inteligente: «Primeiro quiseram
meter-nos medo, agora querem-nos subornar. A única forma de termos o nosso destino nas nossas mãos é votar sim à independência».
"This is
a panicky measure made because the Yes side is winning. They’re trying to bribe
us, but it won’t work as they have no credibility left." Alex Salmond, First Minister Escocês
Há ainda
mais um factor a ter em conta, que se chama União Europeia. David Cameron tentou evitar a nomeação do super-federalista Jean-Claude Juncker para sucessor de Durão Barroso na Presidência da Comissão Europeia. O episódio não foi agradável, com acusações de parte a parte,
mas não evitou a nomeação do Luxemburguês para o cargo. Juncker, que não é de se ficar, quis aplicar uma pequena vingança a Cameron, dando um empurrão à causa
independentista na Escócia. Disse Juncker que a Escócia seria bem-vinda na União Europeia caso se separassem do Reino Unido. Entendendo que tais declarações poderiam abrir um precedente para a Catalunha, Madrid não gostou. De qualquer forma, vimos uma vez mais a repulsiva ingerência de Bruxelas nos assuntos internos de um Estado-Membro da UE.
"Let no-one fool you that 'Yes' is a positive vision. It's about dividing people, closing doors, making foreigners of our friends and family." David Cameron, Prime Minister do Reino Unido, esta Segunda-feira em Aberdeen.
Desde os
anos 90 que os jornais, comentadores e políticos aproveitam o mantra da
campanha de Bill Clinton em 1992 que dizia «é a economia, estúpido!» Confesso que não gosto disto por duas grandes razões: primeiro porque usa uma
linguagem feia e agressiva; e depois porque desde então a política practicamente desapareceu, foi capturada pela economia e pelas
financas, e deixou de ter margem de manobra para servir o Bem Comum. Obviamente
que qualquer política responsável não gasta mais do que
aquilo que tem e precisa de contas certas, nem eu sugeriria outra coisa… mas
esta obessessão com o dinheiro acabou por desvirtuar a
política, por fazer mal à própria economia, até aos bancos… e às pessoas em
geral. O resultado está à vista.
Voltando
ao Reino Unido, só nas últimas duas semanas é que os líderes dos 3 maiores
partidos (Conservadores, Trabalhistas e Liberais) decidiram fazer campanha com
mais afinco, por vezes juntos, e implorando aos Escoceses que fiquem na União. Parece que estas acções estancaram a subida dos
independentistas nas intenções de voto, mas pode ter sido tarde demais
para reverter a situação. Ganhe quem ganhar, as sondagens indicam
que a diferença será mínima.
Árvore genealógica da Família Duck, pelo grande Don Rosa |
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