terça-feira, 29 de outubro de 2013

tu és Portuguesa, tu és só para nós

A História de Portugal desde a revolução de 1974 tem sido uma história de crises económicas e políticas que fazem muita gente questionar-se sobre a viabilidade da democracia, ou até do nosso país. Penso que temos de estudar melhor a nossa História, fazer uma viagem da fundação de Portugal aos nossos dias para perceber aquilo que tem resultado e o que tem falhado.

Mas aqui entra o problema da História como nos é apresentada nos programas escolares. Antigamente havia um orgulho nos nossos heróis, o questão é que estes nos eram apresentados de uma forma demasiado nacionalista, e não apenas patriótica. Se durante o Estado Novo a educação - como a política - pecava por dogmática, desde a revolução de Abril que as escolas nos ensinam a ter vergonha de sermos portugueses. Os mesmos personagens que antes eram os heróis e pais da Nação, foram transformados em deploráveis colonizadores, bárbaros carniceiros, agressores dos direitos humanos. E isto é practicamente tudo o que as nossas crianças sabem sobre a nossa História, pois o tempo de antena é cada vez mais dado à História da Europa e do resto do Mundo. Como se a nossa não bastasse! Como se Portugal não nos merecesse! Como se nada houvesse de relevante a contar sobre donde vimos e o que fizemos no Mundo!

Só o nacionalismo brega dos adeptos de futebol é permitido hoje em dia, e parece que quanto mais alarve for, melhor para as televisões, reféns de audiências e demitidas do seu papel educativo. Não é que esteja mal apoiar a selecção, mas não é grande serviço fazer depender todo o nosso orgulho nacional de resultados desportivos e dos jogadores de futebol.

Os responsáveis de Abril desistiram de Portugal. Quiseram enterrá-lo com a descolonização, terrivelmente feita aliás, e não sendo isso suficiente, deram-nos à Europa para que nos governassem. Passámos de portugueses orgulhosos a colonizadores envergonhados, e agora a quase colonizados pela UE. A vergonha de se ser português vem dos anos 70 e ecoa até hoje. As novas gerações nasceram e cresceram nesse contexto, e este desgosto comum faz com que os novos emigrantes enviem cada vez menos remessas, ao contrário dos antigos emigrantes. Sim, para quê investir num país que nos ensinaram a desprezar? Até o Governo nos disse para emigrar, nem eles nos querem lá!

Porque o Estado Novo puxava pelos nossos heróis (e a meu ver, não da forma ideal), a revolução fez ainda pior e rejeitou-os. Os políticos responsáveis de então foram medrosos, ou preguiçosos, ou burros, ou vendidos, ou descrentes, e preferiram importar ideias de fora a pensar naquilo que era melhor para nós. As elites políticas de hoje são compostas de filhos de Abril e insistem nas mesmas ideias. Os sociais-democratas e socialistas continuam com os olhos postos nos países nórdicos do Estado Social falido, os comunistas estão ainda a digerir um Moscovo que falhou, a direita está orfã de referências e de ideias. Nem à esquerda nem à direita há heróis, todos foram esquecidos ou contaminados.

Eu não quero uma III República, nem quero um Estado Novo, nem uma I República, nem os últimos anos da Monarquia. E Abril não me serve. Quero Portugal, e quero-o pacificamente, sem mais revoluções. Somos Portugueses e temos direito ao nosso País. Todas as revoluções desde o liberalismo importaram ideologias forasteiras, não foi só Abril, e sempre com consequências nefastas para a nossa Alma Pátria. Os republicanos fizeram-no, o Estado Novo também. Provavelmente todos com as melhores intenções. Mas Portugal precisa de voltar a ser português, sem vergonha de procurar soluções em si mesmo. A nossa História tem de ser fiel aos factos e, em caso de dúvida, fiel ao nosso País. Precisamos de voltar ao Tratado de Zamora, a Guimarães, a Aljubarrota, ao Mar. E sem impôr nada a ninguém, não reneguemos Vila Viçosa e Fátima, onde aprendemos a invocar sem medo o amor filial a Nossa Senhora:

Ó glória da nossa terra,
Que tens salvado mil vezes!
Enquanto houver Portugueses,
Tu serás o seu amor!

Portugal continua, e não se pode curvar mais a outros interesses que não os nossos. Na nossa História encontraremos ideias que funcionaram e que os portugueses ainda intuem ao votar, como a nossa tradição municipalista (poder local de escala humana, ameaçado pela recente junção de freguesias ou pelo fantasma muito europeu da regionalização), o espírito das associações espontâneas, valores como a liberdade, a nossa cultura e identidade cristã, a nossa habilidade comercial e humana para lidar com todo Mundo, fiéis à nossa identidade sem ficar triste e "orgulhosamente sós". Numa frase, patriotas a sério, livres de ideologias atávicas como os comunismos, os fascismos, os socialismos, as maçonarias, os estrangeirismos e os nacionalismos. Livres de dívidas e de discussões inumanas como o aborto ou a eutanásia, próprias das sociedades decadentes. Patriotas e livres. Portugueses, enfim!

Há estoutro caminho para Portugal que está em aberto, e talvez ainda tenhamos algumas oportunidades para o escolher. Eu não digo como será, temos é de reunir e ouvir os nossos melhores historiadores, sociólogos e filósofos portugueses, sim, também os há em Portugal! Leva tempo mas não podemos desistir, pois como dizia Miguel Torga, um povo que fez o que fizemos tem o dever moral de continuar. Temos procurar em nós, e só em nós, a melhor forma de estarmos no Mundo com as outras nações. E como cantou Amália, Lisboa não sejas francesa, com toda a certeza não vais ser feliz. E acrescento, nem sejas alemã, nem espanhola, nem inglesa, nem americana, nem russa, nem chinesa. Não és de Bruxelas. Tu és portuguesa, tu é só para nós.

1 comentário:

Toni Bellido disse...

Hola Antonio, yo no soy portugués, pero me parece una reflexión muy interesante que además puede extrapolarse a otros pueblos. El nacionalismo banal -fútbol, bandera, etc.- es estúpido y no sirve para nada, pero creo que un "nacionalismo" (hay que ir con mucho cuidado con esta palabra) bien entendido, respetuoso y sin sentimiento de superioridad, es positivo.

Conocer la historia, cultura y tradición de un determinado territorio y comunidad y sentir amor por ella no pude ser malo. Con el tema del aborto tengo mis dudas -me parece un tema muy complicado-, pero yo sí que estoy totalmente a favor de la eutanasia y el derecho (ya sé que para ti este derecho no existe) a morir cuando uno quiera, aunque eso supongo causar dolor a los seres queridos. ¡Un abrazo! Toni