quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

duas perspectivas sobre o networking

Se já está no mundo do trabalho, provavelmente já ouviu falar de networking. Senão, vai ouvir muito em breve. É uma palavra que veio para ficar e representa a rede de contactos que uma pessoa vai tecendo ao longo da sua vida profissional e pessoal.

A primeira vez que me deparei a sério com a ideia de networking foi quando estudei comunicação política na Universidade de Navarra. O meu professor era um importante lobista profissional em Madrid e, naquele exagero muito próprio dos espanhóis de Madrid, quis passar a mensagem que a partir daí todos os contactos que fizéssemos na vida deveriam ser entendidos numa lógica de networking. Os jantares, cocktails, conferências e outros eventos seriam como ocasiões privilegiadas para provocar novos contactos profissionais e aprofundar os antigos. Este professor levava o networking tão a sério que tirava 20 minutos por dia para fazer chamadas para uma lista de pessoas por nenhuma razão em especial além de apenas “manter contacto com elas”. Para termos uma ideia da amplitude da sua rede de contactos (ou network), este professor começava a escrever cartões personalizados de boas festas logo a seguir ao Verão, em Setembro. As curiosidades deste personagem seguem e são inúmeras, mas este postal não é sobre ele.

Afinal, o que é realmente isto do networking? O networking é a rede de pessoas da nossa relação profissional e pessoal. É aquela esfera de amigos e conhecidos que já existia antes do facebook e linkedIn, mas que agora está mais organizadinha e catalogada nessas chamadas redes sociais. Há até quem diga que a primeira rede social de todas foi a oração, muito embora neste caso a ligação transcenda a dimensão interpessoal da amizade. O networking é por definição uma rede social com possibilidades de potenciar presentes e futuras relações comerciais ou profissionais.

Mas aqui é que a porca torce o rabo, e à medida que fui experimentando diferentes ambientes profissionais fui descobrindo vários estilos de relacionamentos e de atitude perante o networking. Aproveitando uma controvérsia da moda, proponho distinguir as atitudes perante o networking em duas categorias completamente diferentes: a cristã e a maçónica.

A atitude maçónica ou maquiavélica tem sempre em vista o interesse. A amizade até pode trazer algum prazer intrínseco, mas este é secundário: o que lhes interessa é mesmo alcançar mais Poder. Os fins desejados, por muito bons que sejam, estão sempre presentes na mente e nas acções deste género de pessoas, e os meios para alcançar os fins só importam na medida em que não empatem a sua persecução. Esta é uma moralidade que faz lembrar as novas coca-colas: ou moralidade light, ou zero. Os interesseiros pertencem a esta escola. Nada é de graça, tudo pressupõe contrapartidas no presente ou no futuro. O Bem não se faz pelo seu valor em si, mas pela recompensa que ele pode trazer.

Há uma variante desta corrente que também é forte, e é a atitude erótica. Ponho-as na mesma categoria porque exploram as mesmas emoções e paixões, nomeadamente a luxúria e a ganância de poder e influência, seja através do sexo ou pelo dinheiro. O flirt ou catrapisco como ferramenta de networking é muito usada e serve de plataforma privilegiada a jornalistas, políticos e negociantes para conseguirem aquilo que querem. Quanto maior a intimidade lograda, maior a confusão e o compromisso. Claro que depois estes acabam sendo quase sempre os segredos mais mal guardados, por um lado, ou o veículo para vinganças de quem fica de fora e quer destruir a reputação de quem aparentemente vence.

No entanto, há alternativas a estes tipos de networking. É possível uma atitude cristã ou relacional. Aqui o que conta é a Verdade em cada momento e não apenas o resultado final. O Bem faz-se pelo Bem, pelo seu valor intrínseco presente em cada etapa e desafios da Vida. Só o networking cristão é que pode durar no tempo e criar relações de confiança. A traição é condenada e rara, mas mesmo quando acontece o seu perdão pode idealmente falar mais alto. Os valores e a busca de Deus põem em perspectiva todos os acontecimentos na vida das pessoas sensíveis a esta atitude cristã, seja perante a vida, o mundo, as pessoas ou o networking.

Há uma quantidade de razões pelas quais é incompatível e irreconciliável ser-se cristão e maçom ao mesmo tempo. A Igreja Católica aponta há muitos anos quais as razões, desde o Papa Leão XIII (1810-1903) ao actual Papa Bento XVI (1927-). Há dois artigos recentes que explicam bem esta incompatibilidade:

- Bernardo Motta - “Maçon e católico?” (ver documentação)

- Pe. Nuno Serras Pereira - “Branqueamentos Maçónicos


Não se pode servir a dois senhores. Seria uma pena, até do ponto de vista da boa saúde das relações sociais, se o networking maçónico prevalecesse sobre a atitude cristã perante as pessoas, o trabalho e a vida. Cabe a nós trazer a verdade para o centro das nossas acções e encarar o poder como a oportunidade de agirmos em favor do Bem Comum, e fazê-lo de uma forma responsável, verdadeira e humilde. Sem calculismos, sem pôr preços nas pessoas (outras profissões o fazem e não dignificam), e acima de tudo com Amizade. As pessoas da minha network não são necessariamente minhas amigas, mas todas merecem ser tratadas com a dignidade intrínseca que têm e com a mais verdadeira amizade, independentemente daquilo que profissionalmente alcançarmos juntos.


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1 comentário:

LBM disse...

Muito bom meu caro amigo.

Espero que te encontres bem e que continues a escrever. Um dia, vira livro este teu blogue!

Parabéns!

Um grande abraço