sexta-feira, 16 de julho de 2010

o candidato representativo e o candidato aspiracional

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Há momentos em que os eleitores procuram candidatos mais inteligentes, mais cultos ou com um historial de outros atributos (coragem, bravura, beleza, etc.) que fazem deles heróis. No fundo, alguém como aquilo que o eleitor comum aspira vir a ser. Noutros momentos, os eleitores votam em pessoas normais, como eles, que os possam representar verdadeiramente nos seus valores e maneira de ser. É o caso de Dale Peterson, candidato à Comissão de Agricultura do Estado do Alabama, nos Estados Unidos da América. Dale Peterson representa muito bem os valores do seu eleitorado do Alabama, apresenta-se como um deles. Não foi eleito, mas conseguiu subir dos 5% de intenções de voto que as sondagens lhe davam, para 28% na votação final. Não ganhou as eleições, mas a sua campanha foi um sucesso. O candidato não só representou os valores tradicionais do homem republicano médio do Alabama, como soube personificar o herói cowboy do faroeste. Resumindo, Dale Peterson soube ser representativo e aspiracional. Eis o seu spot de campanha:
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Por mais que nos impressione, este vídeo funcionou no Alabama. A arma, a linguagem directa e popular, o tom paternal com que fala, o cavalo, a indumentária, a música, os símbolos americanos, tudo contribuiu para que a mensagem passasse. Funcionou, tal como a imagem de Hugo Chávez funciona para muitos venezuelanos, ou a de Alberto João Jardim funciona para os madeirenses (e alguns continentais). Mais, assim se explica porque George W. Bush ganhou a candidatos que tinham fama de serem mais inteligentes que ele, como Al Gore em 2000 ou John Kerry em 2004. É que George W. Bush soube representar melhor os valores do americano médio. No fim do mandato a sua popularidade caiu a pique, porque os americanos médios começaram a pensar que até eles governariam melhor que George W. Bush. É o risco destes candidatos, que se tornam demasiado "representativos" - e estamos sempre a falar da imagem projectada na opinião pública. É que os tempos mudam e há momentos em que precisamos mais de heróis. Obama, que veio depois de Bush, é um candidato claramente aspiracional e que personifica o sonho americano. O risco e também a beleza da democracia é que, dar o poder de eleição ao povo, permite que tudo isto possa acontecer.
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2 comentários:

Anónimo disse...

Vamos abrir uma subscrição nacional para oferecer uma espingarda e um cavalo ao Jardim...!

António Vieira da Cruz disse...

Caro anónimo, penso que A.J.Jardim tem nos microfones a sua espingarda, talvez até metralhadora, apontada e sempre pronta a disparar. Não aparece montado a cavalo, mas o seu charuto e chapéu de palha fazem parte da sua marca. Sabe falar a língua do eleitorado e embora isso lhe custe atribuladas relações com a imprensa, com a oposição e com o seu próprio partido, A.J.Jardim é largamente recompensado nos votos.