quinta-feira, 29 de outubro de 2009

a nova comunicação: de linear a hipertextual

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Hoje falo sobre um dos novos paradigmas da comunicação: "de linear, a comunicação passou a ser hipertextual". Mas antes, explico o porquê deste exercício.
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Estou neste momento numa aula de Nuevos Medios, que faz parte do Mestrado em Comunicação Política e Corporativa (MCPC), da Universidade de Navarra, onde curso. O Professor desta cadeira é argentino, chama-se José Luis Orihuela, e a sua proposta é que façamos um pequeno ensaio sobre um dos novos paradigmas da comunicação. É, pois, disto que este post se trata.
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"De linear, a comunicação passou a ser hipertextual", diz o autor. Como vemos na maior parte dos textos publicados em páginas web, o hyperlink está na moda. Tradicionalmente (nos livros, jornais, revistas...), o texto é uma sequência de palavras e ideias meticulosamente construídas, de uma forma linear e que tenta ser coerente. No entanto, não é assim que funciona a nossa mente. Basta repararmos nas conversas mais descontraídas que temos com os nossos amigos, em que saltamos de assunto para assunto sem esgotar os temas nem chegar a conclusão alguma. Ao conversarmos, estamos constantemente a "hiperlinkar".
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Há quem diga que Francis Bacon não tinha jeito para escrever, só para pensar; e se ninguém o disse, digo-o eu, porque é especulável e neste momento dá-me jeito. Explico-me. Não há qualquer dúvida que algumas das passagens literárias mais bonitas da Filosofia Política são da autoria de Bacon, autor que tinha uma habilidade enorme para produzir belas metáforas e assim ilustrar melhor o seu pensamento filosófico, usando os mais diversos recursos estilísticos com um fino sentido poético. Mas, na realidade, não sabemos se Bacon escrevia bem ou mal, porque pouco ou nada se conhece de escrito pelo seu próprio punho: era um secretário que anotava tudo, enquanto Francis dava voltas pelo jardim, soltando ideias para a atmosfera. Vidas boas...
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O que quero provar com este exemplo de há quatro séculos atrás é que não é necessária a velha forma de tecer um texto (porque um texto é um tecido) para sermos geniais. Basta escrevermos como pensamos, e hoje a internet permite-nos tal aventura. Mas... como nos ensina a sabedoria popular, "não há bela sem senão", e toda a aventura comporta riscos.
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O que é a comunicação hipertextual? É simplesmente poder escrever um texto e ligá-lo a qualquer outro texto, som, vídeo ou imagem que esteja disponível na Internet. Mas este modelo exige novas destrezas, quer para quem escreve, quer para quem lê. Para quem escreve, há que aprender a articular o texto com ideias, citações e links pertinentes, que possibilite ao leitor uma consulta fácil, mas ao mesmo tempo tentar que o texto escrito não perca a sua unidade. Para quem lê, é necessário um esforço maior para chegar ao fim, como aliás nota J.L.O. no seu texto.
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O grande risco da comunicação hipertextual é que, ao olhar para um texto assim, a coerência do tecido pode perder-se pelo caminho. Se me leu até aqui sem se perder pelos links que pus pelo caminho, autênticas armadilhas para o mais incauto, então muitos parabéns! Está preparado para enfrentar a comunicação do século XXI.
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* houve entretanto um pequeno promenor alterado no texto (veja-se a caixa de comentários)
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5 comentários:

António Vieira da Cruz disse...

A propósito, um dos secretários de Francis Bacon foi Thomas Hobbes.

Anónimo disse...

Se o leitor chegar ao fim do texto sem se perder pelos links, quem está de parabéns é o "escritor".
A menos que o seu objectivo fosse mesmo perder o leitor (que ele o não seguisse até ao fim), ou que o leitor se perdesse.

Daí a importância de usar links com muita moderação.

Daí também a importância cada vez maior da clareza e da concisão.

E a da Retórica.

(firmado: El Guerrero del Antifaz)

p.s.
Já apanhaste o tique ("m'explico")

António Vieira da Cruz disse...

El Guerrero del Antifaz, excelentísimo antiguo chateador elmundista!

O escritor também está de parabéns mas, usando uma ideia do A. Lobo Antunes, o leitor escreve pelo menos metade do que lê, porque sempre interpreta.

Exagerei nos links neste texto de propósito, só para poder dizer a laracha final.

Em breve terei aulas de Retórica com um conhecido teu, de farinha e fermento.

Raios para o "m'explico", os "o sea" e os "efectivamente"! Já pedi os Lusíadas e a Mensagem para prevenir estas coisas. Grrr...

Um beijinho ;)

jlori disse...

Muito bem.

Un detalle. En lugar de:

dos novos paradigmas da comunicação (link)

Es preferible:

dos novos paradigmas da comunicação.

António Vieira da Cruz disse...

D. José Luís,

Muchas gracias. Con tu licencia, modifico ahora mismo ese detalle.

Saludos,


António