sexta-feira, 13 de março de 2009

as tabernas do século XXI

-
Quem gosta de um certo ambiente taberneiro, já não encontra em Lisboa muitos antros genuínos, mas para compensar há bastantes stands de automóveis. Ir a um stand de carros é como colher uma generosa amostra sociológica de tabernice, em vários sentidos.
-
Por um lado, os vendedores com o gel penteado com um bocadinho de cabelo, meinha branca, cheirando abundantemente a after-shave contrafeito, com um fino e cuidado risco de pêlos no lugar da patilha, tratando o cliente por "o shôr, pá, faxavôr faj'isto e depois had'me dzer s'eu na tinha razão". E depois casca-se no Sócrates, lamenta-se os resultados da bola, cumprimenta-se alguma senhora que passe e manda-se um piropo entre os godes, mas só quando ela estiver à exacta distância de o ouvir sem o perceber. Até aqui não há problema, é até um género típico que acho que deve ser, em certa medida, preservado.
-
Contudo, o que realmente me faz pena é ver cada vez mais mulheres nestes stands, escolhidas a dedo pelo chamariz das suas gulosas curvas, muito escassamente vestidas, e com uma atitude que está algures entre o predadora e o delambida. Atenção, a pena que me faz não é a sua existência, mas o facto de terem de recorrer a todos os argumentos que possam encontrar frente ao espelho para cumprir os objectivos de produtividade empresarial e ganhar bónus, ainda para mais em tempos de crise.
-
Uma pessoa que vá a um stand, rapidamente se esquece do que vai lá fazer e para onde há de olhar. É terrível. Mas esta indecisão só dura momentos, pois logo vem uma voz rouca de cama que nos lembra "é por causa do arranjo? por aqui, querido", e arrasta languidamente os seus atributos, aos ésses pelo armazém fora.
-
Hoje em dia, tudo isto faz parte do marketing automóvel - dizem -, vender o carro explorando ao máximo a testosterona do público masculino, que é o seu principal alvo no mercado. Só que, pelo contrário, este fenómeno nada tem de novo: inspira-se em profissões muito mais antigas que a própria invenção do carro.
-

8 comentários:

MRB disse...

Faz como eu, vai de bicicleta:P
hehe, está muito bem desenhado, o teu post (ao ler, dá para ver as gotas de suor a escorrer pela patilha anorética do senhor vendedor:))

Madalena disse...

LOL!

António Vieira da Cruz disse...

Obrigado Rosária!

Patilha anorética é muito bom.

Bjs

António Vieira da Cruz disse...

Madalena,

O que me rio com a história da baba de caracol...!

Bjs

M. disse...

Tas com piada!
Mas suscita-me uma questão: vais comprar carro? O twingo voador vai ter um concorrente?
beijinhos!

António Vieira da Cruz disse...

Obrigado Mary!,

Nada disso, o T.V. está aí p'rás curvas. Foi só o que tenho notado quando por alguma razão passo em oficinas.

Bjs!

joaquim disse...

Bem tenho de ir viver para Lisboa.

Por aqui de uma maneira geral continuam a ser os tais individuos por ti descritos, acrescentando o fato às riscas e a gravata amarela ou assim para o rosa e o sapatinho afiambrado.

Lá na isnpecção é qu há uma menina, mas está fardadinha a preceito...

Bah, coisas da provincia...

Abraço amigo

António Vieira da Cruz disse...

Caro Joaquim,

O fato às riscas é um clássico, e parece que está inclusivamente de volta ao parlamento, para ficar!

Um abraço